terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Enteléquia galopante

Passos mudam e nós continuamos a achar que somos os mesmos, em essência. Mas o que é a essência senão a mudança? Pra isso que nos trouxeram ao mundo: mudar tudo e revirar o que estava no lugar. Saímos do fundo de um lago pra ganhar asas e imergir no vácuo, em busca de uma essência cada vez maior. Suspicazmente rara, nossa estada por aqui se torna tão inadequada quanto nossa própria necessidade de aceitação natural, compelindo-nos contra um final lastimável. É a essa mudança execrável que a sabedoria humana nos confina. Perdidos para sempre nos mares do saber, fluímos junto ao nada cada vez maior, um verdadeiro vortex inundo e límpido, contraditoriamente similar a nossa própria essência.
Na aceitação executamos a verdade que não falha, onde temos tudo que sabemos. E o que nos move é, sem dúvida, o passo que não podemos dar: a quarta dimensão que nos comporta, o tempo. Sem a imaginação aflorada nunca chegaríamos à conclusão de que Deus existe, e jamais daríamos a ele um pronome próprio. Pois Dele é o Reino, Nele existimos e por Ele chegaremos à vida eterna. Mas o que dele seria sem o tempo? Princípio e fim em vagas inquestionáveis indiscrições. Destemidamente sorriríamos ao pensar no instante que é o hoje, o ontem e o amanhã.
Sofro por conter a vida num espaço tão curto que me contrai e me exprime, e me faz volver aos oráculos em busca do perdão. Pois não pude sequer manter minha essência viva em mais de um zilhão de estrelas sem saber que posso andar a todos os cantos do universo dentro de minha altiva pequenez, que diminui a cada novo passo na imensidão do Tudo que sempre pude compreender.

sábado, 24 de outubro de 2009

Relaciosocional minguante.

O Michael morre>

O mundo é pop>

O CD vaza>

Eu compro.


Lady Dai chega>

O Paparazzi come>

A multidão comove>

Eu choro.


O Big Brother escolhe>

Show da vida move>

Meu dia-a-dia é duro>

Eu juro.



Juro que compro>

Opino ao telefone>

Reclamo ao trombone>

Dessa vida infame.


Pra que política>

Se eu tenho o SAC?>

Ninguém destrói aquilo>

Que Eu comprei!


De tudo, só sei

De nada.

Eu sei.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Insomnia nº ¿

Não acabei. No sono eu vejo o que a vida deixou passar, na insônia eu vivo o que sem luz posso ver. Acho que por essa razão agora eu encontro o sono, vindo de vagar, já que a luz me tapa a insônia constantemente, me traz à luz do mundo visual. Fujo do assunto, pretendo não ver. Vejo o assunto fugir, acho que agora é hora de dormir.
Boa noite.

Insomnia nº ?

Não sei o que é, mas me tira o sono, me fisga o estômago e me aflige a alma. Passei horas a pensar numa solução para um enigma meu, que eu mesmo fiz e a mim me devorei ao repetir as respostas erradas: não há solução alguma. Morri e morro ao pensar no que não existe. É quase um ciclo que se fecha no escuro, e gira e roda e expira. Expira o nada. Ao entender que nada existe, que nada é claro nessa impertinente escuridão, dei por terminada a Guerra insana a vitória do São. Sim, o São que nada fez para ganhar o cargo. Apenas pensa, pensa, pensa e morre, morre e encontra a solução já morto, encaixotado e feliz por acreditar que o insano é são.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quando o vento nos faz ver.

O sono faz parte do ser; a falta dele, parte da inquietação do pensamento. Não sei o motivo, na verdade, de não dormir. Sei que é um conjunto de motivações, um mix de fatores que me fazem pensar e pensar... sem agir. Nada posso fazer aqui deitado, esperando o sono chegar. Mas posso pensar, e por isso não durmo.

Tive momentos oportunos à reflexão por esses dias, momentos daqueles que desprezamos por concluirmos que nada parece certo. De tão erradas as coisas acabam por, harmoniosamente, passear pelo tempo de maneira esplêndida, nos deixando atados aos nós do destino. Somos sementes de um chão incerto, coberto por grandes matas já plantadas pelo Tempo. Fomos plantados por algum tipo de pássaro, daqueles que acalentam os olhos com sua viva cor, e pelo seu bico desprendemo-nos da Grande mãe, pronta a ceder seus filhos a um mundo cheio de erros. No caos vivemos a harmonia da incerteza, certa de que somos capazes de trazer a paz a um pensamento são.
Ao olhar o infinito desse mundo, perto do céu e perto da terra, vi meus erros conquistarem o vento, mas também nele eu senti que haveria sempre alguém capaz de direcioná-los para que eles não fossem simplesmente carregados sem direção... Sempre que com meus erros o vento soprar a vida fará que um ser esteja presente para os sentir, compreender e compartilhar comigo, de forma que nunca deixarei que somente de erros eu viva. Somos seres imperfeitos, mas nascemos com a perfeição harmônica do caos. É nela que crescemos, com ela é que criamos e, sem saber, ela é o que chamamos de destino.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Paixão clandestina: a verdade.

O amor não penso, sinto
Por entre as veias de meu coração sedento.
Toco a canção
exata, traz o vento
O sopro às minhas asas clandestinas.

Faço mais pensar, não sentir...
Mas pensando não se ama um sentimento
Crio a forma,
Dou a luz ao fogo.
Que exuberante aflige o pensamento.

Sou a censura do Estado reprimido.
Coração
pulsante ao som do tempo
Pássaro que é preso a contragosto.
Todas as formas de amor pensante,
Todas as vidas atiradas ao relento.

Miserável força, o pensamento
Que desgraça o amor sentido, parte ao meio
Duas vidas de um coração inteiro.
Quero sentir, somente,
Livre pra despensar.
Amar o sentimento.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Paixão clandestina.

Ela é magnífica. Maior beleza ou pureza jamais encontrarei na minha vida. Das quatro que eu podia pegar, ela me encantou. Acordo, ela me chama. Vou ao trabalho, sinto sua falta... Não há mais dias infelizes, com ela a minha vida ganhou uma nova programação. As baladas, a vida vil e insana que levava sem ela me fazem ver como havia perdido tempo com desnecessidades. Quanta beleza e informação ela esbanja! Passaria horas a fio vidrado nos seus olhos, e ainda assim teria prazer em enxergar cada vez mais o contraste e a nitidez de sua íris. Ela me apaixona, sempre. Basta um toque, um aperto de mão e eu logo perco o controle. Sinto meu coração vibrar só com seus sussurros, pois é tão forte seu timbre que qualquer som da natureza é realçado vindo dela. Eu gozo de alegria, ainda que não a tenha ganhado por completo. Muitos me praguejam por achar errado eu tê-la comprado de um mercador internacional, ilegalmente. Mas é assim que eu consigo sustentar meus vícios. Infelizmente a sociedade não me dá outra escolha. Ela é tão nova que seria um pecado deixá-la solta num mundo cheio de perigos e decepções. E outra: eu estou consciente de contribuir para o bem ambiental, já que nunca vou deixá-la cometer qualquer atrocidade à natureza. Ela é inteligente o bastante para me respeitar; e eu, esperto o suficiente pra não a deixar me seduzir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Compreensão inquietante.

Bobo como deve ser. Lindo como se faz crer. Sem verbos, é um substantivo alado. Saberia melhor entender se o visse. Mas se fecho os olhos, o sinto.
Sobrevoar a realidade com a alma sublime do amor é contemplar sua real existência: a materialização do abstrato mundo sensível, que capta as melhores vibrações e as transforma em obra-prima, sendo dotada da mais pura aura que vigora através dos tempos... Pois dos poetas o Amor se vale, para que seja mantido o futuro desfrute das palavras que acalentam o inexplicável.
É complexo, é infinito, simplesmente é. Nas formas, a música altera o ritmo, a dança o passo, a pintura a tela. Do ardor dos frígidos ao furor dos pacíficos, não o saberíamos entender. Pois movem-se multidões, destroem-se reinos e plantam-se pedras no seu lugar.
O mais contundente conceito gerou horror. A mais harmoniosa expressão causou o Amor. A dose certa, na hora exata, levou à chuva o rio, ao afluente o lago, ao oceano o mar. Essa é a visão que daqui vejo: uma infinita obra-prima que brilha diante de meu pensamento.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Insomnia n° 100.809

Não adianta. Hoje nada me aflige. Apenas penso. Pensar me faz homem, me faz gente. Com o pensamento sofro, porque nele existo. Pesar? Pensar? São muito parecidos.

Desde a hora que se foi junto ao som do relógio contíguo, deixo acordada minha mente. É essa a hora exata da minha lentidão humana: paro e penso. Sei que de nada adianta pensar sem fins lucrativos. Mas penso. Sou a vida mundana acordada num momento, e esse é o momento da vida humana mais feliz, mais incrédula de que tudo existe. Pensar é uma dádiva; sofrer, uma bênção aos que pensam. Imagine-se dentro de um poço infinitamente fundo, aonde nada há senão você. O escuro, a lentidão e o vácuo criado pela falta de pensamentos o fazem sofrer. Sem eles, você seria apenas um monte de carne jogada em um buraco. Com eles, um monte de idéias incríveis. Como sair daqui? Que existe naquela luz? Como vim parar aqui? Quem inventou essa história pra me fazer agoniar em sofrimento? Posso eu reinventar essa história e descobrir o que de melhor existe longe desse sofrimento? É isso. Esta é a verdadeira razão do agora.

O momento que se passa é o momento de idéias incríveis. Ainda que longe da luz do poço ou mesmo do próprio poço, eu me vejo pensando. Sim, a visão do pensamento nos faz sofrer em alegria, pois com ela eu consigo atravessar qualquer infinito que me cubra de sombras, ou qualquer vácuo que me asfixie as idéias. Penso para que um mundo exista, sem ele não seria o que sofro. Se sofri um dia, é porque pensei. Se continuo a sofrer, é que da alegria do pensamento nato tenho o que me faz preciso: o instante de viver.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A Hora da Sra. Boa Fé

É suíno. Tudo é a causa dele. Por que deixei de dizer o certo? Não quero nem saber. Ontem falei com Nostradamus, ele me contou que novamente o Mundo acabar-se-á. Aqui no Brasil, dessa vez. O Porco vai assolar as massas, invadir as casas e nos inspirar. Teremos de vestir as máscaras a fio, pra festejar o carnaval que em Dezembro já vai estar de matar. Festa que todo brasileiro gosta... Somos seletivos, e a Seleção é que não vai faltar. Darwin? Que nada, foi o Wallace lá da favela de Noronha que descobriu essa evolução da Bateria da Porteira. Sem ela, nenhum outro animal sairia vivo senão o próprio. O Porco. É ele o vilão das trevas que nos vem assombrar. É dele que eu corro agora pra não poder pegar. Sem rima a suinada grita, se estremesse e vibra na fúria de matar. Ou morrer. Não sei, nem quero que saibam que eu soube.

Só sei que é inevitável, é a Hora da vez. Bem que eu sabia que Nostradamus tinha um fundinho de verdade. Mas coitados daqueles que se mataram antes de virar o milênio, morreram sem apreciar o delicioso sabor do divino toicinho que amanhã hei de preparar.

Ainda lembro do barulho do Baby antes de morrer. Grunhia de dor, o pobrezinho. Mas sorte foi a dele, morrer a morte santa, a alimentar uma boca faminta. Eu me lembro de Nostradamus ter mesmo uma insônia por causa desse maldito porco. Nunca lhe fez bem a carne suína. Nunca.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Insomnia nº 300.609

Acontece que o sono me falta. Novamente. E junto nesse vácuo encontram-se diversas outras espécies de desejos e pensamentos que me atormentam. Não consigo deixar de me entregar a eles, e neles me afogo. Num impulso contínuo sou jogado ao fundo de um poço pronto para encontrar o fim do mundo, perdido no vale da insônia. Idéias, das mais sórdidas às mais perfeitas, me assombram e eu posso finalmente encontrar a razão para chorar junto à dor.

Uma dor branda, que canta ao som de uma banda e dança com meus olhos, que vibram a cada nova idéia surgida nesse turbilhão de possibilidades que arrombam o valo junto ao sono.

Ninguém conhece a verdadeira realidade escondida nesse mundo. A sombra é mais que a ausência de uma luz qualquer, pronta a enveredar pela alma e a causar a morte do corpo. Porque é a alma a atriz pornô que se desfaz em pedaços, é ela que consegue começar o orgasmo maior só com o sibilar de palavras soturnas. Impotentes, ficamos a admirá-la, solta e leve num marasmo de sabedoria superior às nossas próprias vidas.

Sobre a imensidão de coisas que agora vejo estão as mais importantes, um sono que eu deveria ter e uma solidão que pede por minha paz. Sem qualquer movimento eu deixo que ela se sublime, que torne minha escravidão humana em uma verdadeira caminhada ao Altar dos Deuses. Jogo-me contra as tradições, vibro ao admirar a beleza da exatidão cósmica que nos faz pura e simples fração de um momento incerto, capaz de destruir um átomo e quebrá-lo em partes ainda impossíveis de se ver. Que será que me aguarda nesse Novo Mundo? Qual saber necessito para burlar as regras de minha ignorância, para que eu finalmente encontre a Mãe que me tanto faz nascer?

Sorte daqueles que dormem, que respiram o ar que eu deixo de ter. Amo àqueles que deixei em casa, cobertos da frieza que agora enfrento, um frio que se faz pela morte das moléculas de vida que deixei em meu corpo ruminante, impuro e imundo nesse Mundo no qual faço uma mera atuação estatística. Sou mais o sopro de um vento cataclísmico que a própria carne a apodrecer a cada instante. Em calmaria os dias se vão, atentos ao meu piscar, atentos a cada pensamento vão que se passa em minha mente, sábios e certos de que nada parará esse instante...

Passou. Não sei como, mas eu um dia entrarei no Mundo dos que me deixaram por minh’alma ao relento vácuo do Saber, na fúria de não poder dormir o sono dos verdadeiros seres abençoados.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O fim do começo.

A verdade é que eu nunca pude deixar claro o sentimento maior. Uma porque várias vezes ele foi sucumbido pela maestria da ignorância, outra porque eu já não mais seria capaz de detê-lo. O ar derrubava meus pulmões ao pensar que tal força seria maior que a gravidade, capaz de derreter a calota polar sem ao menos me deixar salvar a Terra do martírio dos impuros... Mas nada que podemos pensar é feliz o bastante pra se fazer verdade, e logo temos que nos acostumar com as nuances da vida etérea. Disso tudo já dito, redito e consagrado fica a coerência da superioridade humana, quando o assunto é complicar o simples fato de um sentimento existir sem definição.
Ao entardecer a luz deixou meu quarto amarelado, pousando em mim a sensação de que havia encontrado o pote de ouro depois do arco-íris: eu estava dentro dele. Nada conseguiria me fazer rir senão aquele instante de lucidez insana, onde os duendes abririam a porta de meu quarto e me diriam que devo agora parar de sonhar. Sim, sonhar em acordar para uma vida intrinsecamente minha. Teria de levantar cedo no outro dia e, embora minha tarde já se esvaísse, não poderia mais deixar de esclarecer o que sentia. Era, ao meu ver, a última chance que eu teria de expor o que sempre quis que soubessem, mas que nunca deixei que me escapasse. Saí de casa deixando meu pote já enegrecido pela ausência da cor de minhas visões, para encarar a carruagem que me deixaria na frente de meus pensamentos mais vis, e ao mesmo tempo mais sãos. Eram eles que me atormentavam dia e noite, ainda que nunca pensasse que seriam tão angustiantes. Toquei a campainha, obstante, mas logo a porta se abriu:
- Oi! Voc..
- Eu amo você...