quarta-feira, 31 de agosto de 2011

L'Hymne à l'amour

Uma voz, um instante. Algo que transcenda ao real, surreal. Solavancos de anestesia trazidos após o terror e a ansiedade. Sorrir sem motivo, chorar sem razão... Ouvir ao som antigo, romântico sem notar que há um fundo de nostalgia por um momento a suceder.
Só o que preciso, no momento... Suprindo uma insônia que não vem. Só o sonho de uma noite mal dormida pensando nisso tudo, sem sentido. Assíncrono ao tempo, sorrindo ao vento e admirando uma janela escura. Clara, aos meus olhos, felizes por não conseguirem enxergar tão cedo. Aquela loucura indecente, sorrateira e fugaz, que fica... fica pra sempre. Marca como ao gado, queima como ao sol de verão e acontece uma vez e só. Ainda espero, a voz me chama. Ouço ao cair do sereno, aberto ao som que vem de longe e se transforma em brisa da noite quente após o dia frio. Ou ao dia quente a noite fria? Não faz mais sentido... Se um dia quisera fazer algum. Aguardo pra saber.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Hoje notei que o dia estava meio vazio. Estranha a sensação de que existe vida depois do buraco... Uma vida longe, porém leve e desprendida de qualquer obrigação e defeito.

Nesse vazio que senti de um estar vivo em um local que faz apenas sentido se transformo o meu entorno em algo melhor, comecei a olhar as partes vivas com mais vivacidade, mais leveza e maior amor. Pois de nada adiantaria viver sem pensar o bem daquelas pessoas que nos fazem preencher um buraco que está fadado a nos abrigar um dia.
É triste imaginar a vida sem sentido... É feliz acreditar que o sentido só depende de uma vontade sua: a de amar intensamente o momento vivido.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Indefinido

Um carro estava em frente a casa de Gabriel. Olhando pela janela, ele estava confuso ao perceber o veículo estacionar sem que houvesse motivos de espera ou visitas.Passava da meia noite. Sequer os pássaros habitavam a árvore do gramado frontal, ou mesmo veículos trafegavam a rua. Apenas aquele carro. Parado, talvez habitado por um fantasma, uma sombra misturada a ausência de luz que afrontava o brilho da Lua. O dia fora iluminado, cheio da rotina renovada da esperança de um ano melhor. Era janeiro. Seu complexo linguajar usurpava aquele momento, tropeçando em acentos e aglutinações contínuas que explicassem a causa e a coisa que habitava aquela condução estranha. Seria apenas mais um transeunte motorizado que resolvera tirar a noite em frente a sua residência? Algum casal que encontrara na calada da madrugada a omissão de seus atos ilícitos às leis da sociedade? Ou apenas um vigilante assombrando seus pensamentos?
Passou mais de cinco meses pensando como seria realizada aquela sociedade estabelecida no ano que se acabou, criando formas e situações que conseguissem preencher os hiatos pelos quais se viu estar. Uma grande alforria de pensamentos, um limiar entre ódio e amor. Foi uma completa perda de tempo, segundo dados estatísticos. E uma repleta entrega de sentimentos, diante da possibilidade do sucesso. Acabou que não começou pelo meio, ou pelo fim. Começou pelo tropeço. Concluiu isso ao entrar janeiro.
Estava sozinho em casa e apenas a luz de seu quarto iluminava o vão que encobria seu espanto e inquietação com uma persiana. Talvez chamando a polícia o fantasma se dissipasse. Talvez não, pois fantasmas não têm medo da vida, já que com ela não contam. Que ser vivo estaria parado em frente a sua casa sem razões óbvias ou definidas senão para funções canônicas? Dentre em instantes o homem sairia do veículo, trajando uma toca preta e armado aos dentes para disparar contra sua fortaleza. Sim, a mando de qualquer fulano que o tivesse renegado diante de suas hábeis decisões funcionais. Era advogado, e qualquer desorientado sociopata seria capaz de cometer atrocidades contra sua jurisprudência.
Melhor que se apagasse a luz do quarto, portanto. Assim o alvo poderia ser apenas o átrio, no máximo estourariam-se as luminárias da sala ou o lustre central. "Uma vergonha, companheiro, coagido em seu próprio meio", conclui-se o linguajar germânico em sua mente. Sequer o capacho tivera coragem de sair do carro, entretanto. Continuava ali, estático, sem roncar o motor ou arranhar o silêncio noturno num abrupto movimento das portas. Talvez estivesse frio lá fora, ainda que o verão trouxesse a vontade da noite em se manter aquecida pelo asfalto quente.
Janeiro trouxera a resolução de um novo ano, mas um velho resoluto ainda se encontrava indefinido. Incompleto. Era a solução para aqueles hiatos perdidos no tempo. Onde estivera a outra parte interessada? Que caminhos tomara? Na dissolução do estabelecido sequer teve coragem de exprimir uma rescisão decente. Resolveu simplesmente multar o coração alheio com a culpa de não poder o ver.
Antes que o sehen se manifestasse em sua mente o veículo pareceu andar. Suas luzes estavam todas apagadas, assim como sua alma. O carro seguiu viagem e se perdeu no horizonte escuro da rua mal iluminada de sua vizinhança.