terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Enteléquia galopante

Passos mudam e nós continuamos a achar que somos os mesmos, em essência. Mas o que é a essência senão a mudança? Pra isso que nos trouxeram ao mundo: mudar tudo e revirar o que estava no lugar. Saímos do fundo de um lago pra ganhar asas e imergir no vácuo, em busca de uma essência cada vez maior. Suspicazmente rara, nossa estada por aqui se torna tão inadequada quanto nossa própria necessidade de aceitação natural, compelindo-nos contra um final lastimável. É a essa mudança execrável que a sabedoria humana nos confina. Perdidos para sempre nos mares do saber, fluímos junto ao nada cada vez maior, um verdadeiro vortex inundo e límpido, contraditoriamente similar a nossa própria essência.
Na aceitação executamos a verdade que não falha, onde temos tudo que sabemos. E o que nos move é, sem dúvida, o passo que não podemos dar: a quarta dimensão que nos comporta, o tempo. Sem a imaginação aflorada nunca chegaríamos à conclusão de que Deus existe, e jamais daríamos a ele um pronome próprio. Pois Dele é o Reino, Nele existimos e por Ele chegaremos à vida eterna. Mas o que dele seria sem o tempo? Princípio e fim em vagas inquestionáveis indiscrições. Destemidamente sorriríamos ao pensar no instante que é o hoje, o ontem e o amanhã.
Sofro por conter a vida num espaço tão curto que me contrai e me exprime, e me faz volver aos oráculos em busca do perdão. Pois não pude sequer manter minha essência viva em mais de um zilhão de estrelas sem saber que posso andar a todos os cantos do universo dentro de minha altiva pequenez, que diminui a cada novo passo na imensidão do Tudo que sempre pude compreender.