Gostar sem
contexto é o mesmo de desgostar. Por que você me ama se eu não te conheço? Que
motivos eu tenho pra te amar? São apenas curtições a esmo, sei bem...
Sempre que a sociedade
nos oprime em seus meios, nos conforma em suas feições e nos ilude em seus
erros, criamos válvulas de escape para transformar nossas verdadeiras opiniões
em recalques que devem ser vistos por todos. Enfrentar a realidade de uma crua
opinião fundamentada em argumentos válidos é muito mais difícil. Sobreviver ao
acúmulo de informação desencontrada parece ser a única saída quando o que se
tem pra hoje é o esgoto, onde tudo que eu descargo serve pra satisfação alheia
de um like qualquer... A busca pela satisfação se faz pelo consumo, seja lá
qual for, de uma verdade oprimida em imagens, tons e ruídos que se transformam
em gostar, sentir, xingar, amar. Verbos que desfalecem o sabor da vida mundana,
aquela que todos têm, mas, por medo de abraça-la e reconhece-la, preferem recapeá-la
através de uma face inédita no meio do livro da salvação.
Somos vítimas
de um bombardeio diário da busca por uma vida feliz, saudável e voraz que deve
e necessita ser vivida intensamente. A melhor forma de condizermos com as imposições
do mercado é abraçarmos as ferramentas que nos são dadas de graça – sejam elas
saudáveis aos outros ou não. Alvejar o vidro do vizinho, delatar os erros alheios,
oprimir usurpando a verdade ou mesmo a comprando, são apenas exemplos de um
arsenal de possibilidades para transformar o dia-a-dia mais fácil, mais feliz.
Sou feliz por usufruir dos benefícios dessa vida digital!
A felicidade
está no gostar longe de mim. Não gosto de gostar sem motivo, de receber sem carinho
ou afeição. Prefiro o paladar do real, do que discute, que dialoga. Evitar
palavras por gostar demais, é furada. Contornar afetos em atalhos mal
resolvidos, um descuido. Pra ser eu mesmo, só gostando de mim assim.